Quantas vezes o passado
teima em bater em nossa porta?
É um amigo de infância, um
colega de escola ou de trabalho, relacionamentos perdidos na névoa do tempo. Como
se o passado voltasse a bater na nossa porta, para algum ajuste ou apenas o
deixarmos passar. O passado que não
aceita que o deixemos passar, pois seria sublimado, perderia solidez.
Há um ditado: "Não me
pergunte do meu passado, não moro mais lá."
Ou " Um mesmo rio não
passa duas vezes debaixo da mesma ponte".
E no rio da vida, hoje não
somos a mesma pessoa que viveu o dia de ontem, nem o dia é igual ao que já foi.
Só na nossa ilusão mental, em nosso
apego à identidade e estória, existe uma continuidade de passado, presente e
futuro, onde o passado está nos assombrando se nossas costas e o futuro imerso
em névoas a frente, ou como na tradição inca, o futuro está onde não vemos, às
costas e o passado já vivido à frente, determinando nosso caminhar.
Mas o rio do tempo passa
por nós e não nós passamos por ele.
Se não somos os mesmos que
viveram certas situações, todo o sentir daquele momento também não nos
pertence. Pertence aquele que vivenciou a mesma e a viu daquela ótica. Não fomos
nós...
Então qual o sentido de se
manter aprisionado naquela imensa dor, se não fomos nós que a vivenciamos? Foi
quem éramos, que já morreu e está enterrado no túmulo do tempo...e teimamos
estar de luto pelo que foi...e que nem sabemos se foi mesmo daquele jeito.
Vamos acumulando feridas
emocionais que não só não saram, como entram em putrefação, gangrenam nosso
corpo emocional. Para não adoecer o corpo físico, toda está carga emocional é
encapsulada e mantida isolada dos demais corpos.
Podemos lidar com esta
coagulação como uma entidade (energia que obedece um comando) de dor e esvaziar
sua opressão, ou optar por remove-la, como se faz com um apêndice não
fundamental.
E compreender que quem
viveu aquela dor não foi quem somos hoje, permite fazer ambas técnicas...esvaziar
e remoção...
Podemos manter a estória,
o aprendizado, mas não precisamos reter o conteúdo emocional que é magnético e
atrai a repetição das situações e /ou adoece o corpo físico, que dá a vazão ao
físico da sobrecarga emocional.
Se não somos que viveu
esta estória, podemos abdicar da sua herança e suas marcas...o dia de ontem foi
do um filme ao qual me identifiquei...acabou, desligo e esqueço...sem dar
importância...
O ontem não me define…nem
o futuro...eles são conceitos e não são reais...
O que penso que sou, não
me define, é só um modo de observar entre infinitas possibilidades. Se mudar
como olho, tudo muda.
Sou apenas Aquele que
observa o observador se observando a viver algo...
Sem nenhum apego…sem
tempo...sem espaço...só uma consciência observando a vida se revelando.
E o que sou hoje e o que
estou sentindo agora, pode se volatilizar daqui a segundos, se assim eu
discernir....
Portanto o passado, bom ou
ruim, não tem força sobre mim, a menos que eu lhe vivificar com meu apego ou
luto...é apenas uma estória, um filme, um romance, que o rio do tempo levou e
entregou para o oceano...ou para as nuvens....
O importante é que a dor
emocional não permaneça em nós...que deixemos este rio as purificar...
Gratidão ao Rio do Tempo
que nos obriga a fluir e não ficarmos apegados as margens situacionais...é só
se soltar das margens e se deixar levar ao oceano, que é nosso Ser, aquele que
observa tudo, do além tempo-espaço-materialidade.