quarta-feira, 8 de maio de 2013

Osho

Perguntaram a Osho: ... Amado Osho,Certa vez, você disse que este é um mundo maravilhoso, mas que ele estava em mãos erradas. Eu concordo com todo o meu ser. Eu sinto isso. Mas como poderemos deter essas mãos gananciosas que estão torturando a natureza e escravizando os homens, se não lutarmos e não brigarmos? Não é preciso destruir o velho, para se construir o novo? Giovanni, essa é uma das armadilhas mais velhas em que o homem tem caído. Sim, eu disse que o mundo é muito belo mas que ele está em mãos erradas - e, imediatamente, a sua mente começou a pensar em como destruir aquelas pessoas erradas, como tirar o mundo dessas pessoas erradas, livrá-lo de suas mãos. Ao invés de transformar a si mesmo, ao invés de transformar a sua própria mente, você imediatamente começa a pensar em termos de política. Eu falo religião e você imediatamente interpreta como política. E isso parece lógico, Giovanni, porque isso parece perfeitamente correto: 'Mas como poderemos deter essas mãos gananciosas que estão torturando a natureza e escravizando os homens, se não lutarmos e não brigarmos?' Mas, se você lutar e brigar, você acha que será capaz de transformar o mundo e toda essa situação? Ao lutar e brigar, você simplesmente vai se tornar como aquelas pessoas contra as quais você está lutando e brigando. Essa é uma das leis fundamentais da vida. Escolha seus inimigos muito cuidadosamente! Os amigos você pode escolher sem qualquer cuidado. Não há qualquer necessidade de se preocupar com os amigos, porque amigos não têm impacto sobre você, eles não impressionam você tanto quanto os inimigos. É preciso tomar muito cuidado com os inimigos porque você terá que brigar com eles. Ao brigar, você terá que usar as mesmas estratégias e as mesmas táticas deles. E você usará essas estratégias e táticas por anos e anos. Elas irão condicionar você. É assim que tem acontecido ao longo das eras. Joseph Stálin revelou-se um czar muito mais perigoso que os czares que haviam governado a Rússia antes do comunismo tomar a direção. Por quê? Porque ele aprendeu a estratégia com os czares. Lutando contra os czares, ele teve que aprender os caminhos e os meios; os mesmos caminhos e meios usados pelos czares. Passando toda a vida lutando, praticando violência, com o tempo Joseph Stálin chegou ao poder. Ele foi um czar muito mais perigoso, obviamente, porque ele foi o melhor ao lutar contra os czares. Ele precisou ser mais esperto, mais violento, mais ambicioso e mais maquiavélico. De outra maneira, teria sido impossível vencer os czares. E ele fez o mesmo, numa escala muito maior. Ele venceu todos os czares. Todos os czares, colocados juntos, nunca praticaram tanta violência, tantos assassinatos, quantos fez Joseph Stálin sozinho. Ele aprendeu a lição tão bem que suspeita-se que o líder da revolução, Lênin, foi envenenado pouco a pouco, por Joseph Stalin, adulterando sua medicação. Ele estava doente e, com sua medicação adulterada, ele foi envenenado pouco a pouco e morreu. Se Lênin ainda estivesse vivo, Joseph Stálin seria o homem número três, porque ainda havia um outro homem, Leon Trotsky, que era o número dois. Assim, a primeira coisa a fazer era: como destruir Lênin. E ele o matou. Depois, a segunda coisa era: como matar Trotsky. E ele o matou. Então, ele ficou no poder, e uma vez no poder, ele começou a matar muita gente. Todos os membros do Politburo, os líderes comunistas do mais alto comando, foram mortos por Stalin, um a um. Eles precisavam ser destituídos do poder, porque todos eles conheciam as estratégias. Isso aconteceu com todas as revoluções no mundo. Agora, quando eu digo que este mundo é muito belo, mas ele está em mãos erradas, eu não quero dizer para você começar a lutar contra aquelas mãos erradas. O que eu quero dizer é: por favor, não seja aquelas mãos erradas, e isso é tudo. Eu não ensino revolução, eu ensino rebelião, e a diferença é grande. Revolução é política e rebelião é religiosa. Revolução necessita que você se organize como um partido político, como um exército, e lute contra os inimigos. Rebelião significa que você se rebela enquanto indivíduo, você simplesmente sai fora, desiste de todo esse esquema. Pelo menos você não deve destruir a natureza. E se mais e mais pessoas se tornarem 'desistentes', o mundo poderá ser salvo. Essa será a verdadeira revolução, não política. Ela será espiritual. Se mais e mais pessoas abandonarem as velhas mentes e seus caminhos, se mais e mais pessoas se tornarem mais amorosas, se mais e mais pessoas forem não-ambiciosas, se mais e mais pessoas forem não-gananciosas, se mais e mais pessoas não estiverem mais interessadas em poder político, em prestígio, em respeitabilidade... Isso é o sannyas! Sannyas é abandonar o velho e podre jogo, e viver a sua vida por si mesmo. Não é uma briga contra o velho, é simplesmente sair das garras do velho, e essa é a única maneira de enfraquecê-lo, essa é a única maneira de destruí-lo. Se milhões de pessoas no mundo simplesmente escapassem das mãos dos políticos, os políticos iriam morrer por si mesmos. Você não consegue lutar contra eles. Se você lutar, você mesmo se torna um político. Se você lutar contra eles, você se torna ambicioso, você se torna ganancioso. Isso não irá ajudar. Seja um 'desistente'. E você tem uma vida pequena: por cinquenta, sessenta ou setenta anos você poderá estar aqui. Você não pode ter esperança de transformar o mundo, mas você pode ter esperança de ainda poder curtir e amar o mundo. Use a oportunidade desta vida para celebrar tanto quanto for possível. Não a desperdice em brigas e lutas. Eu não estou criando uma força política aqui, não, absolutamente. Todas as revoluções políticas fracassaram tão completamente que somente os cegos podem continuar acreditando nelas. Aqueles que têm olhos podem lhe ensinar alguma coisa nova. Isso é alguma coisa nova! Isso foi feito antes também, mas não em larga escala. Nós temos que fazer isso em larga escala: milhões de pessoas têm que se tornar 'desistentes'! Por 'desistentes' eu não quero dizer que vocês têm que deixar a sociedade e ir para as montanhas. Você segue vivendo na sociedade, mas você deixa a ambição, você deixa a cobiça, você deixa o ódio. Você vive na sociedade e é amoroso; vive na sociedade como um ninguém. Nós podemos mudar o mundo todo, mas não pela luta. Não desta vez. Chega! Nós temos que mudar este mundo pela celebração, pela dança, pelo canto, pela música, pela meditação, pelo amor, não pela briga. O velho tem que cessar, para que o novo surja, mas, por favor, não me interprete mal. Giovanni é um italiano e a Itália moderna é política em demasia; todo o pensar é político. Toda mente italiana é obcecada por política. Talvez seja porque eles estão cheios do Vaticano católico, do papa e de todas essas tolices. Eles viram tanto isso que passaram para o outro extremo. Certamente o velho tem que cessar, mas o velho está dentro de você, não fora. Eu não estou falando das velhas estruturas da sociedade, eu estou falando da velha estrutura da sua mente, a qual tem que cessar para que o novo surja. E é incrível, inimaginável, inacreditável como um simples homem abandonando a velha estrutura da mente cria um espaço tão grande para muitos transformarem as suas vidas. Um simples homem transformando a si mesmo, torna-se um desencadeador. E então, muitos outros começam a mudar. A sua presença se torna um agente catalisador. Essa é a rebelião que eu ensino: você abandona a velha estrutura, você abandona a velha cobiça, você abandona o velho idealismo. Você se torna uma pessoa silenciosa, meditativa, amorosa. Você será mais uma dança e então verá o que acontece. Alguém, mais cedo ou mais tarde, irá juntar-se à dança com você, e depois, outras pessoas mais. Foi assim que aconteceu aqui. Lao Tzu diz que você não precisa sair do seu quarto. Tudo pode acontecer enquanto você vive dentro de seu quarto. Mas Lao Tzu teve que sair. Ele costumava ir em seu búfalo, movimentando-se de uma vila a outra. Eu tenho seguido o seu conselho. Eu nunca saio de meu quarto. A pequena Hasya vive no Lao Tzu*. Outras crianças perguntam a ela: "algumas vezes você vê o Osho andando pela casa?" Mas ela ainda não me viu, então, o que ela pode dizer? Eu estou simplesmente vivendo no meu quarto e todos vocês vieram de diferentes cantos do mundo. Isso é um milagre! Por que vocês vieram? E muito mais estão a caminho, eles chegarão logo. Este lugar vai se tornar uma tremenda força no mundo, uma força transformadora no mundo. Ele vai se tornar uma explosão espiritual, mas nós não vamos lutar contra ninguém, nós não vamos brigar com ninguém. Eu não tenho qualquer inclinação política. Eu sou totalmente contra a política. Sim, o velho tem que cessar para que o novo surja, mas o velho tem que cessar dentro de você, então o novo surgirá aí. E uma vez que o novo esteja dentro de você, o novo é contagioso, e começa a se espalhar em outras pessoas. A alegria é contagiosa! Ria e você verá outras pessoas começando a rir. Assim é com a tristeza; fique triste e alguém olhando para a sua face séria, de repente se tornará triste. Nós não somos separados, nós estamos juntos, ligados. Assim, quando o coração de alguém começa a rir, muitos outros corações começam a ser tocados, algumas vezes até corações distantes. Vocês vieram de locais tão distantes. De alguma maneira, o meu riso alcançou vocês, de alguma maneira, o meu amor alcançou vocês. De alguma maneira, por algum caminho misterioso, o meu ser tocou o seu ser e vocês vieram até aqui, enfrentando todas as dificuldades. Mil e uma dificuldades estão sendo criadas, e muitas outras serão criadas. Embora eu não esteja lutando contra ninguém, ainda assim, aqueles que estão no poder ficam com medo porque eles não conseguem pensar que possa haver um homem sem inclinação política. Eles não conseguem acreditar que possa haver um homem que possa atrair milhares de pessoas e não use o poder dessas pessoas para alcançar algum poder político, algum status político. Eles não conseguem acreditar nisso! Como eles podem acreditar nisso? Eles só conseguem entender o caminho que eles conhecem. Assim, os políticos ficam com medo e estão criando todo tipo de barreiras. Mas isso não vai dificultar ninguém. Na verdade, isso irá ajudar-me tremendamente! Eu me tornarei um desafio para todas as pessoas corajosas. Isso poderá impedir uns poucos covardes, e será bom se eles forem impedidos, porque aqui eles não terão qualquer proveito. Na verdade isso será como uma tela dizendo: só as pessoas que podem ser beneficiadas por mim chegarão aqui. Assim, isso é bom. Qualquer obstáculo que for criado será bom. Mas eu não estou lhe ensinando a brigar contra coisa alguma. Sempre que você briga contra alguma coisa, você se torna um reacionário, porque isso é uma reação, você se torna obcecado a respeito de alguma coisa, você fica contra aquilo. E então existe toda a possibilidade de que a coisa que você está contra, o domine. Talvez de uma maneira negativa, mas ela dominará você. Friedrich Nietzche era contra Jesus Cristo, em demasia. Mas a minha análise de Friedrich Nietzche é que ele era muito impressionado com Jesus Cristo, por isso ele era contra ele. Ele estava obcecado, ele estava realmente tentando tornar-se um Jesus Cristo do seu próprio jeito. O seu grande livro Assim Falava Zaratustra, é um esforço para criar um novo evangelho. A linguagem que ele usa, as metáforas que ele usa, a poesia que ele usa, certamente lembram Jesus Cristo, embora fosse contra ele. Ele nunca perdia uma oportunidade sequer; se ele pudesse condenar Jesus, ele imediatamente condenava. Mas Jesus era repetidamente lembrado. Ele estava obcecado. Quando ele enlouqueceu, na última fase de sua vida, ele passou a assinar suas cartas como 'Anti-Cristo Friedrich Nietzche'. Ele não conseguiu esquecer-se de Jesus, nem mesmo quando ele se tornou louco. Primeiro ele escrevia 'Anti-Cristo' e depois ele assinava. Você pode ver a obsessão, a profunda inveja que ele tinha de Jesus e que o dominou por toda a vida. Isso destruiu a sua imensa criatividade. Ele poderia ter sido um rebelde, mas ele reduziu-se a um reacionário. Ele poderia ter trazido alguma coisa nova para o mundo, mas ele não conseguiu. Ele permaneceu obcecado em relação a Jesus. Eu não sou contra nada nem ninguém. Eu não quero que você seja livre de alguma coisa, eu simplesmente quero que você seja livre. Veja a diferença: 'liberdade de' nunca é total; aquele 'de' o mantém na armadilha do passado. 'Liberdade de' nunca pode ser liberdade verdadeira. Nem a 'liberdade para' pode ser liberdade verdadeira; ela está à procura de uma nova escravidão. E essas 'liberdade de' e 'liberdade para' quase sempre seguem juntas como dois lados de uma mesma moeda. O que eu ensino é simplesmente liberdade, nem 'de' nem 'para', simplesmente liberdade. Nem contra o passado, nem a favor do futuro, mas simplesmente estando no presente. Osho, em "The Guest"

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Rosa de paracelso

Em sua oficina, que abarcava os dois cômodos do porão, Paracelso pediu a seu Deus, a seu indeterminado Deus, a qualquer Deus, que lhe enviasse um discípulo. Entardecia. O escasso fogo da lareira arrojava sombras irregulares. Levantar-se para acender a lâmpada de ferro era demasiado trabalho. Paracelso, distraído pela fadiga, esqueceu-se de sua prece. A noite havia apagado os empoeirados alambiques e o atanor quando bateram à porta. O homem, sonolento, levantou-se, subiu a breve escada de caracol e abriu uma das portadas. Entrou um desconhecido. Também estava muito cansado. Paracelso lhe indicou um banco; o outro sentou-se e esperou. Durante um tempo não trocaram uma palavra. O mestre foi o primeiro que falou: — Lembro-me de caras do Ocidente e de caras do Oriente — falou, não sem certa pompa — Não me lembro da tua. Quem és e que desejas de mim? — O meu nome não importa — replicou o outro — Três dias e três noites tenho caminhado para entrar em tua casa. Quero ser teu discípulo. Trago-te todos os meus bens — e tirou um taleigo que colocou sobre a mesa. As moedas eram muitas e de ouro. Fê-lo com a mão direita. Paracelso lhe havia dado as costas para acender a lâmpada. Quando se voltou, viu que na mão esquerda ele segurava uma rosa, que o inquietou. Recostou-se, juntou as pontas dos dedos e falou: — Acreditas que sou capaz de elaborar a pedra que transforma todos os elementos em ouro e ofereces-me ouro. Não é ouro o que procuro, e se o ouro te importa, não serás meu discípulo. — O ouro não me importa — respondeu o outro. — Essas moedas não são mais do que uma parte da minha vontade de trabalho. Quero que me ensines a Arte; quero percorrer a teu lado o caminho que conduz à Pedra. Paracelso falou devagar: — O caminho é a Pedra. O ponto de partida é a Pedra. Se não entendes estas palavras, nada entendes ainda. Cada passo que deres é a meta. O outro o olhou com receio. Falou com voz diferente: — Mas, há uma meta? Paracelso riu-se. — Os meus difamadores, que não são menos numerosos que estúpidos, dizem que não, e me chamam de impostor. Não lhes dou razão, mas não é impossível que seja uma ilusão. Sei que há um Caminho. — Estou pronto a percorrê-lo contigo, ainda que devamos caminhar muitos anos. Deixa-me cruzar o deserto. Deixa-me divisar, ao menos de longe, a terra prometida, ainda que os astros não me deixem pisá-la. Mas quero uma prova antes de empreender o caminho. — Quando? — falou com inquietude Paracelso. — Agora mesmo — respondeu com brusca decisão o discípulo. Haviam começado a conversa em latim; agora falavam em alemão. O garoto elevou no ar a rosa. — É verdade — falou — que podes queimar uma rosa e fazê-la ressurgir das cinzas, por obra da tua Arte. Deixa-me ser testemunha desse prodígio. Isso te peço, e te dedicarei, depois, a minha vida inteira. — És muito crédulo — disse o mestre — Não és o menestrel da credulidade. Exijo a Fé! O outro insistiu. — Precisamente por não ser crédulo, quero ver com os meus olhos a aniquilação e a ressurreição da rosa. Paracelso a havia tomado e ao falar, brincava com ela. — És um crédulo — disse. — Perguntas-me se sou capaz de destruí-la? — Ninguém é incapaz de destruí-la — falou o discípulo. — Estás equivocado. Acreditas, porventura, que algo pode ser devolvido ao nada? Acreditas que o primeiro Adão no Paraíso pode haver destruído uma só flor ou uma só palha de erva? — Não estamos no Paraíso — respondeu teimosamente o moço — Aqui, abaixo da lua, tudo é mortal. Paracelso se havia posto em pé. — Em que outro lugar estamos? Acreditas que a divindade pode criar um lugar que não seja o Paraíso? Acreditas que a Queda seja outra coisa que ignorar que estamos no Paraíso? — Uma rosa pode queimar-se — falou, com insolência, o discípulo. — Ainda fica o fogo na lareira — disse Paracelso — Se atiras esta rosa às brasas, acreditarías que tenha sido consumida e que a cinza é verdadeira. Digo-te que a rosa é eterna e que só a sua aparência pode mudar. Bastar-me-ia uma palavra para que a visse de novo. — Uma palavra? — perguntou com estranheza o discípulo — O atanor está apagado e estão cheios de pó os alambiques. O que farías para que ressurgissem? Paracelso olhou-o com tristeza. — O atanor está apagado — reiterou — e estão cheios de pó os alambiques. Nesta etapa de minha longa jornada uso outros instrumentos. — Não me atrevo a perguntar quais são — falou o moço, deixando Paracelso na dúvida se foi com astúcia ou com humildade. E continuou — Falastes do que usou a divindade para criar os céus e a terra. Falastes do invisível Paraíso em que estamos e que o pecado original nos oculta. Falastes da Palavra que nos ensina a ciência da Cabala. Peço-te, agora, a mercê de mostrar-me o desaparecimento e o aparecimento da rosa. Não me importa que operes com alambiques ou com o Verbo. Paracelso refletiu. Depois disse: — Se eu o fizesse, dirías que se trata de uma aparência imposta pela magia dos teus olhos. O prodígio não te daria a Fé que buscas: Deixa, pois, a Rosa. O jovem o olhou, sempre receoso. O mestre elevou a voz e lhe disse: — Além disso, quem és tu para entrar na casa de um mestre e exigir um prodígio? Que fizeste para merecer semelhante dom? O outro replicou, temeroso: — Já que nada tenho feito, peço-te, em nome dos muitos anos que estudarei à tua sombra, que me deixes ver a cinza, e depois a Rosa. Não te pedirei mais nada. Acreditarei no testemunho dos meus olhos. Tomou com brusquidão a rosa encarnada que Paracelso havia deixado sobre a cadeira e a atirou às chamas. A cor se perdeu e só ficou um pouco de cinza. Durante um instante infinito, esperou as palavras e o milagre. Paracelso não havia se alterado. Falou com curiosa clareza: — Todos os médicos e todos os boticários de Basiléia afirmam que sou um farsante. Talvez eles estejam certos. Aí está a cinza que foi a rosa e que não o será. O jovem sentiu vergonha. Paracelso era um charlatão ou um mero visionário e ele, um intruso que havia franqueado a sua porta e o obrigava agora a confessar que as suas famosas artes mágicas eram vãs. Ajoelhou-se, e falou: — Tenho agido de maneira imperdoável. Tem-me faltado a Fé que exiges dos crentes. Deixa-me continuar a ver as cinzas. Voltarei quando for mais forte e serei teu discípulo e no final do Caminho, verei a Rosa. Falava com genuína paixão, mas essa paixão era a piedade que lhe inspirava o velho mestre, tão venerado, tão agredido, tão insigne e portanto tão oco. Quem era ele, Johannes Grisebach, para descobrir com mão sacrílega que detrás da máscara não havia ninguém? Deixar-lhe as moedas de ouro seria esmola. Retomou-as ao sair. Paracelso acompanhou-o até ao pé da escada e disse-lhe que em sua casa seria sempre bem-vindo. Ambos sabiam que não voltariam a ver-se. Paracelso ficou só. Antes de apagar a lâmpada e de se recostar na velha cadeira de braços, derramou o tênue punhado de cinza na mão côncava e pronunciou uma palavra em voz baixa. A Rosa ressurgiu