quinta-feira, 19 de abril de 2018

Passado


Quantas vezes o passado teima em bater em nossa porta?

É um amigo de infância, um colega de escola ou de trabalho, relacionamentos perdidos na névoa do tempo. Como se o passado voltasse a bater na nossa porta, para algum ajuste ou apenas o deixarmos passar.  O passado que não aceita que o deixemos passar, pois seria sublimado, perderia solidez.

Há um ditado: "Não me pergunte do meu passado, não moro mais lá."

Ou " Um mesmo rio não passa duas vezes debaixo da mesma ponte".

E no rio da vida, hoje não somos a mesma pessoa que viveu o dia de ontem, nem o dia é igual ao que já foi.  Só na nossa ilusão mental, em nosso apego à identidade e estória, existe uma continuidade de passado, presente e futuro, onde o passado está nos assombrando se nossas costas e o futuro imerso em névoas a frente, ou como na tradição inca, o futuro está onde não vemos, às costas e o passado já vivido à frente, determinando nosso caminhar.

Mas o rio do tempo passa por nós e não nós passamos por ele.

Se não somos os mesmos que viveram certas situações, todo o sentir daquele momento também não nos pertence. Pertence aquele que vivenciou a mesma e a viu daquela ótica. Não fomos nós...

Então qual o sentido de se manter aprisionado naquela imensa dor, se não fomos nós que a vivenciamos? Foi quem éramos, que já morreu e está enterrado no túmulo do tempo...e teimamos estar de luto pelo que foi...e que nem sabemos se foi mesmo daquele jeito.

Vamos acumulando feridas emocionais que não só não saram, como entram em putrefação, gangrenam nosso corpo emocional. Para não adoecer o corpo físico, toda está carga emocional é encapsulada e mantida isolada dos demais corpos.

Podemos lidar com esta coagulação como uma entidade (energia que obedece um comando) de dor e esvaziar sua opressão, ou optar por remove-la, como se faz com um apêndice não fundamental.

E compreender que quem viveu aquela dor não foi quem somos hoje, permite fazer ambas técnicas...esvaziar e remoção...

Podemos manter a estória, o aprendizado, mas não precisamos reter o conteúdo emocional que é magnético e atrai a repetição das situações e /ou adoece o corpo físico, que dá a vazão ao físico da sobrecarga emocional.

Se não somos que viveu esta estória, podemos abdicar da sua herança e suas marcas...o dia de ontem foi do um filme ao qual me identifiquei...acabou, desligo e esqueço...sem dar importância...

O ontem não me define…nem o futuro...eles são conceitos e não são reais...

O que penso que sou, não me define, é só um modo de observar entre infinitas possibilidades. Se mudar como olho, tudo muda.

Sou apenas Aquele que observa o observador se observando a viver algo...

Sem nenhum apego…sem tempo...sem espaço...só uma consciência observando a vida se revelando.

E o que sou hoje e o que estou sentindo agora, pode se volatilizar daqui a segundos, se assim eu discernir....

Portanto o passado, bom ou ruim, não tem força sobre mim, a menos que eu lhe vivificar com meu apego ou luto...é apenas uma estória, um filme, um romance, que o rio do tempo levou e entregou para o oceano...ou para as nuvens....

O importante é que a dor emocional não permaneça em nós...que deixemos este rio as purificar...

Gratidão ao Rio do Tempo que nos obriga a fluir e não ficarmos apegados as margens situacionais...é só se soltar das margens e se deixar levar ao oceano, que é nosso Ser, aquele que observa tudo, do além tempo-espaço-materialidade.

Chegada do Rio( Vida) ao Mar ( Self)


Quando o rio, chega ao oceano, antes de penetrar nele, existe uma pausa, pois o mangue é um berçário de vida.

Assim é em certos fins de ciclo, na nossa vida, não precisamos ir apressados se fundir com o mar.

Podemos olhar o caminho que percorremos com o olhar da água que SOUBE contornar todos os obstáculos e apesar de tudo, continuou a fluírem frente.
Houveram quedas, caindo sobre rochas, verdadeiros abismos, houve a necessidade de perfurar a terra formando cânions, de penetrar ao escuro do solo, e formar cavernas para superar montanhas, de formar aquíferos subterrâneos, de agua pura, as vezes evaporar e se tornar nuvens, para voltar a outro ponto do rio, ou a outro rio...mas seu destino quase que final, é o profundo oceano, que nos absorve, mesmo que depois dele evaporemos e recomecemos o caminhar.
O oceano é o Todo, nele não nos fundirmos, conhecemos o Todo e a Tudo, sem separação, por empatia,  mas NUNCA deixamos de ser quem somos...a molécula de agua continua a ser água, independe da forma assumida.
Mas enquanto observamos o oceano, nutrimos a vida do mangue,  podemos observar quantas portas encontramos, olhamos, mas pela energia densa, não penetramos e ficamos aprisionados....estivemos expostos a crueldade do mundo, à maldade, ao vícios, a promiscuidade, a corrupção ativa e passiva, a luxuria, a soberba ( pecados capitais e seus filhos), mas algo em nós preferiu manter a integridade e valores, o amor à vida e à liberdade e integridade da alma.
Vimos e usamos nossa CAPACIDADE de ESCOLHA, que antecede o arbítrio, e optamos por não penetrar nos mundos sombrios.

Porém, houveram outras portas luminosas, que exploramos em parte, mas nossa VONTADE defluir, nos levou em frente, mas deixamos estas portas abertas, para um dia voltarmos e revisitar....assim como em viagens, quando o local nos agrada, e temos pouco tempo e recursos para nele permanecer, voltamos sempre que é possível. Fizemos cursos, aprendemos técnicas, mas não nos aprofundamos...na época, não deu, não importa o porquê...
Pode ser a hora, enquanto aguardamos o momentum de se fundir ao oceano, e deixar o rio da vida, voltar a revisitar estas ferramentas, aprofundarmos nelas, e nos nutrimos delas...não é porque passaram, que não podemos retornar...na primeira visita, olhamos superficialmente, e pouco benefício obtemos, depois podemos observar melhor os detalhes, as cores e possibilidades, podemos nos deliciar, já não tão ansiosos de ver tudo pois é novidade, parar e sentir....
Mas deixar de lado o orgulho de quem já teve o suficiente daquilo, e precisa de outra novidade.
Porém nem sabemos tudo que aquela ferramenta pode nos dar....coletores ou caçadores? Se já colhido, ou caçado, perdemos o interesse...sempre querendo o novo...e quantas riquezas desprezamos pelo caminho...
Na pedra bruta, suja, pode se esconder, se lapidada um belo diamante, com aspecto de carvão, basta lavar e se dedicar a ela.
Quantos talentos desperdiçamos, pela ânsia de chegar logo ao destino, que perdemos a beleza do caminho.
Mas podemos ESCOLHER retomar algo, agora mais maduros, e absorver outras oitavas...
E se a porta, o quarto que visita agora, é denso, te faz infeliz, pode sair pela porta e penetrar em outra,,,
Não seja como a mosca aprisionado na teia de aranha, se desapegue, antes que a morte venha te devorar a vitalidade, o ânimo. A Morte =  AMor-a ti.
Se ocupar bem, ao esperar que o futuro se revele...
Que estância BOA, que te faz BEM, que você vai revisitar, e colocar um novo olhar ?
Que ferramenta que caiu no esquecimento, que vale apena resgatar, antes da partida ?
Quais elevam a sua vibração,  e desta vez sem pensar tanto na aplicação para o outro, mas na sua própria vida.
Pois na hora que o rio chega próximo ao mar, precisa de todo quantum energético que puder obter PARA SI MESMO, para finalizar sua jornada.
Mas quais as desculpas que você ainda conserva, para fugir de encarar este momento de se tornar tintura?
Nunca volte para uma porta, apenas para atrasar-se ao encontro, que é fatal...
Pois o Ego atual não gerencia sobre este momentum, você é apenas 10%, a mão que faz...
Mas quem é 90% de você é seu inconsciente, seu Espirito Invisível, o SELF ,teu corpo....
A mão só vai onde o corpo a leva, só age, se receber um impulso de vontade e tiver energia para tal.
E tiver desenvolvido, junto com o corpo( Espirito) , a capacidade de realizar a atitude.
O Rio só arbitra pelo seu caminho, na escolha de como caminhar, mas se dirigir ao oceano, é determinado pela geografia.
Afinal, no olhar aéreo, o rio está parado, resistindo ao movimento da Terra, que gira velozmente.
É hora de parar de resistir ao mover evolutivo da Terra, e sim se alinhar, se somar a ele...
O oceano parece parado, infinito, porque se move com a Terra. Assim é o Céu ,parece parado ,mas segue a Terra, pelo Cosmos, e nos garante à Vida.
Levar para o oceano, o que ?
Nesta parada, no mangue, depuramos os resíduos da jornada, alimentando as plantas, os animais....
Nos tornando agua limpa, pura, para não contaminar o oceano.
Na nossa parada antes de fundir-nos a nosso espirito, o que levamos a ele?
Toda nossa sujeira emocional, que recolhemos na jornada, as magoas, o ódio, as frustações, o desvalor?
Ou levaremos uma mente lucida, uma alma purificada, valiosa, que desenvolveu muitas habilidades, talentos, dons?
A vida é como uma fogueira, inicia lenta, as chamas sobem, iluminam, aquecem e encantam...mas chega uma hora, que as brasas já consumiram a madeira, e as chamas diminuem, a transmutação gera cinzas...o que é importante se torna  energia que voa em fagulhas aos céus, ao Espirito.
Novamente temos o preparo, a limpeza, para só penetrar no oceano, ou subir aos céus, como um Ser integro e puro. Digno e valioso.
Na porta do Céu, encontra- se nossa Centelha, a qual despidos, nós apresentamos...se íntegros e puros, nos permite a entrada...mas se carrega ainda carga, nós manda voltar, e desapegar da mesma...reencarnamos...
Não é o que fizemos enquanto no mundo, é como nos apresentamos à NOSSA porta...
O coração tão leve quanto uma pluma, diziam os egípcios, quando recitavam as negativas ao código de chumbo adquirido na vida...
Você se apresenta ao oceano, como um rio luminoso ou toxico?
Lave suas feridas, as cicatrize, e siga adiante, resiliente....

Síndrome Abstinência da Alma


Não só de vícios que sofremos da abstinência e todos sintomas dela.

O luto traz em si a abstinência daquela pessoa que partiu de nossa vida, da perda de um emprego e de  relações é o efeito da falta e abstinência da importância que ocupava em nosso espaço.
Passa da mesma forma, pelas 5 fases da naturais da doença: negação, revolta, negociação, até aceitarmos encarar esta dor e trata-la, e sua superação, a transcendência.
No início, o vazio, a magoa, sensação de abandono e/ou rejeição de um lado e de outro a culpa pelo que fizemos ou deixamos de fazer.

É uma falta inclusive orgânica, movimenta hormônios, conteúdos, e parece que o não acesso é insuportável, precisamos ao menos mais uma dose daquilo.
Neste momento o acolhimento daqueles que amamos nos ajuda a superar a noite negra da alma, que chora dolorida pela ausência daquilo que lhe era essencial, lhe dava proposito na vida. Na dor, mais uma dose, mesmo que nos faça mal alongo prazo, gera alivio ao vazio no peito...

A saudade inicia-se pela sensação de culpa, remorso, perda, abstinência, e aos poucos, transmuta-se em saudade da consciência de que valeu a pena viver isto, enquanto durou.
Ao invés da saudade do proximidade, se descobre que do vazio escuro, surge iluminada a presença vivida no nosso coração, daquilo que sofríamos da abstinência, e descobrimos: aquilo vive para sempre dentro de nós e não mais sofreremos sua falta.
Aquela pessoa ou vivência faz parte de nós, daquilo que nos tornamos pelas trocas efetuados, já sem julgamento se foi bom ou ruim, dos altos e baixos, mas  a permanência do amor incondicional: a alma ama e  se amou, não deixa de amar...

Transmutar a relação viciosa com o condicionamento, da necessidade daquilo, tóxico como chumbo em presença nobre dourada que nos preenche de plenitude: que bom ter vivido esta relação, mesmo que em momentos tenha ferido...melhor do que não a ter vivido e se relacionado. Sem esta vivência nossa vida não teria sido tão valiosa, colorida, ficaria mais vazia.

Melhor lidar com a abstinência, com o luto, do que não ter vivido intensamente.
Ser Humano é aprender a lidar com as emoções, das mais primitivas, instintivas, compulsivas, e educa-las aos mais nobres sentimentos, adquirindo a maestria, dominando-se, ao invés de apenas controlar e estagnar esta bioenergética, que nos adoece ainda mais; e isto inclui a fase  aguda e crônica de abstinência, mesmo que o intervalo entre relações pessoais, de trabalhos, da perda daquilo que nos dava proposito para continuarmos a termos a força e coragem de sair da cama de manhã, de casa por amor à vida, dar mais um próximo passo.
Pois é no amor incondicional à nossa vida que nos conduz da noite negra do luto e abstinência para uma nova vivência prazerosa. Pois viver vale a pena, e nossos apegos ao passado, consome muita energia, nos paralisando. E ninguém gosta de sentir estagnado, precisamos do movimento do seguir em frente.

Só por hoje, resistirei ...por amor a mim mesmo, mais um passo adiante ...

Até que nossa vida ganha outro sentido, o da presença e gratidão iluminando nossa alma.
Pois a alma também sofre de abstinência, não só o corpo; mas a alma sabe nos guiar para a cura.